terça-feira, 17 de junho de 2014

DOR CRÓNICA

 

1ª ETAPA - SOBREVIVER, RESPIRAR, VIVER (Fevereiro 2014)

           Amiga do Dr. Joaquim, muitas vezes o ouvi falar da possibilidade de cura através da hipnose. Admito a minha incredibilidade, na altura.
           Tempos depois, devido a um problema crónico, ainda sem solução, aceitei finalmente esta hipótese de tratamento. O problema, diagnosticado como síndrome de Tietze ou costocondrite, é uma inflamação das cartilagens, entre as costelas e o esterno causando uma dor intensa, contínua, no centro do peito. Ao mesmo tempo, a minha respiração era descontrolada, tinha medo de deixar de respirar, coisa muito antiga que, vimos mais tarde, teve origem na pré-adolescência e no desporto que eu então praticava.
           Desde a primeira sessão, e foram seis, que as palavras do Dr. Joaquim, as explicações repetidas (sim, preciso de ouvir muitas vezes a mesma coisa, para que se entranhe) me pareceram inteligentes, dirigidas ao cerne da questão. O pensamento pode estragar muita coisa, mas também faz milagres. Ensinou-me a respirar, aprendi a respirar, tomando consciência da inutilidade do esforço que fazia cada vez que inspirava. Fazia barulho e penso que abria muito os olhos. Não era certamente o último suspiro, mas era a fórmula para sobreviver.
           Há meses que isso não acontece. Aconselhou-me a não me expor, temporariamente, a certas situações de tensão que lhe referi. Arranjei maneira de as contornar. Fica para sempre impresso na minha memória o momento em que percebi como dominar a respiração. O meu segundo nascimento. A sério.

2ª ETAPA - CONQUISTAR A DOR (Junho 2014)

           Tendo vencido a dificuldade que mantive durante muitos anos, em respirar normalmente, o Dr. Joaquim propôs-me uma segunda etapa do tratamento para minimizar ou mesmo erradicar a dor no peito, diagnosticada como síndrome de Tietze.
           A medicina tradicional não encontrou até ao momento cura para esta doença, prescrevendo anti-inflamatórios, antidepressivos e muito descanso. Esforços inúteis há muito que deixara de fazer. Nadar e dançar foi com muita tristeza que deixei de praticar. Até secar o cabelo me provocava uma fadiga enorme.
          Nas sessões que logo retomei, percebi nova coisa: a importância de falar com a dor, de a tornar minha amiga. Sim, ela já tinha dado sinais de ser amiga. “O que é que a dor já fez por ti?”, perguntou o meu médico. Esse foi outro momento inesquecível: sim, já fez, ao alertar-me, fazer-se violentamente sentir, lembrara-me dos desgostos porque passara e tinha evitado que eu retomasse uma situação afetiva dispensável.
           O facto de há meses não praticar a respiração traumatizante aliviou a pressão que sentia e, claro, as palavras, a inteligência com que fui sendo acompanhada ajudaram-me, têm-me ajudado a perceber a boa influência da hipnose e da auto-hipnose, a sintonia que existe entre corpo e pensamentos, qual a raiz da minha questão e a ter cuidado para não substituir aquela dor por outra, noutro lado do corpo. É um trabalho contínuo, sem fim, o de tratarmos de nós próprios, o de lutarmos pela qualidade da nossa vida.
           Já quase não se faz sentir, a dor. Obrigada Joaquim, uma vez mais.